- Olha, olha que menino triste...

- Triste nada! Essas lágrimas nem são verdadeiras!
- Como pode dizer isso assim, tão friamente?
- Ora, dê um apito a ele e em menos de dez minutos ele achará o choro a coisa mais estúpida do mundo!
- Mas ele é apenas uma criança! A diversão de um apito é tão pura, simples e verdadeira quanto a dor expressa em lágrimas! Não se pode ignorar essas coisas. Vamos lá, venha!
- Não, não quero!
- Por que não?
- Não quero! Respeite isso!
- Que foi? O que é isso no seu rosto? É uma lágrima?
- Não, não é nada! Vá embora!
- Me conta o que houve!
- Este sou eu... Este menino, sou eu. O meu verdadeiro eu. O lado sensível e puro, brincalhão e sentimental, frágil e bom. Mas esse eu sempre chora demais, e isso dói tanto... Por isso me recriei. Mais forte, mais durão, mais pensativo e resistente. mas essa maldita lágrima sempre há de cair naos momentos mais impróprios! Não aprendi ainda a controlá-la.
- Não o faça. Você fica mais bonito assim.
- ...
- Não minto, acredite!
- Não discordo nem duvido. Não reajo a elogios.
- Não precisa. Apenas aceite e esqueça.
- Se é para esquecer, por que aceitar?
- Você não precisa guardar nada para si se não quiser. Como recompensa, tudo será sempre novo.
- Mas como penalidade eu nunca saberei o que fazer. eu nunca lembrarei dos momentos bons. Quero isso, isso tudo, só para mim.
- E se a dor vier junto?
- Não importa. Este sou eu, o forte.
- Mas não esqueça que em algum lugar muito próximo do seu lado forte há aquela criança, frágil e inocente, que...
- Que nunca vai desistir de sonhar, nem que para isso ela tenha que chorar a vida inteira.